A realidade do sistema prisional da Bahia na perspectiva do desencarceramento de presos provisórios foi tema de uma audiência pública realizada pela deputada estadual Ludmilla Fiscina (PV) na manhã de hoje (9), na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). O debate foi realizado na Sala da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública e contou com a participação de representantes do Judiciário, Executivo, Legislativo, além da Polícia Civil e Militar.
Da parte do Judiciário, foram apresentados fatores que postergam o julgamento de presos provisórios, que na contagem flutuante de hoje está em torno de 5156 pessoas, representando 39,8%. Além da pandemia, que por dois anos inviabilizou a realização de julgamentos pelo tribunal do júri, um outro quesito é a insegurança pública, especialmente em Salvador, nos bairros onde o crime organizado se estabelece, dificultando o acesso de oficiais de justiça para intimar réus ou testemunhas, inviabilizando com isso o cumprimento do mandado de intimação.
Outros pontos de morosidade mencionados são a falta de apresentação de pessoas presas às audiências no fórum criminal; a ausência de policiais militares nas audiências de instrução criminal, vez que nos crimes de tráfico de drogas, por exemplo, 99% das testemunhas de acusação são policiais militares e, especialmente na capital, esses profissionais são requisitados pelo Poder Judiciário e eles não têm comparecido, o que adia todo o processo. Para solucionar essas questões, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) informou que está em diálogo com a Corregedoria e a diretoria de Recursos Humanos da Polícia Militar da Bahia (PM-BA).
Outro quesito é que muitos presos antigos que não podem ser soltos, segundo entendimento dos juízes, têm relação com crimes de homicídios ou crimes dolosos contra a vida, além da falta de alegações finais dos advogados. A Corregedoria do TJBA informou que visita os presídios, relaciona quem está preso e o porquê, lista os presos provisórios e leva ao conhecimento dos respectivos juízes e, quando constata morosidade em casos de pessoas idosas, enfermas, sem o devido tratamento médico, com doenças psiquiátricas, eventualmente esquecidas nesses locais, exige o cumprimento da lei de execuções penais. Nas varas criminais, exerce uma fiscalização assídua da lista de réus presos.
Críticas como a falta de infraestrutura histórica das unidades prisionais e a falta de defensores públicos nas comarcas foram elencadas no debate. Para se ter uma ideia, hoje, existem 405 Defensores na Bahia, atuando em 58 comarcas do estado, o que representa 28,5% de cobertura. A categoria defende o aumento desse número para um mil profissionais, para atender em todas as unidades prisionais do estado. Enquanto isso, ações estão sendo feitas pela Defensoria Pública do Estado da Bahia para atender o maior número de pessoas possível, como atuação cumulativa no local de origem e outra cidade vizinha, além da criação do grupo do júri que destina um defensor para a sessão, além de mutirão no interior do estado para atender presos provisórios em cidades onde não há Defensoria, com agenda fechada até 2024.
Entre os avanços, foi mencionada a Lei 9.099, que permitiu a adoção de penas alternativas para minimizar o impacto de presos provisórios, como a audiência de custódia, as tornozeleiras eletrônicas, que também tiraram uma parte das pessoas dentro do sistema, além da prisão domiciliar. Por outro lado, a execução de outras leis mais rigorosas deu um boom no sistema prisional, como a de crimes hediondos e do pacote anticrime, além do gargalo do regime semiaberto.
O Executivo estadual listou as ações estruturantes e investimentos que estão sendo feitos nos presídios, incluindo o aporte de mais de 40 milhões do Fundo Penitenciário em obras, com foco nas melhorias de todas as unidades, na ressocialização dos presos por meio do trabalho e da educação, além dos serviços de inteligência, com aparelhamento dos servidores e do sistema prisional como um todo.
“Sem dúvidas, hoje foi um dia de grandes debates para compreendermos melhor como funciona esse processo, como cada órgão atua, quais são as dificuldades, para podermos ajudar nos encaminhamentos que possam minimizar ou mesmo resolver esse problema em nosso estado. Diante de tudo o que ouvimos, é consenso se pensar na qualidade da vaga do sistema prisional, na transversalidade das áreas, na perspectiva do oferecimento de capacitação profissional com vistas a uma vaga no mercado de trabalho, na educação dessas pessoas, para dar a elas dignidade humana, pensando no sujeito e no acolhimento a essas famílias, para que ao sair da prisão não sejam cooptados pelo crime”, disse Fiscina.
Além de Ludmilla Fiscina, fizeram parte da mesa o deputado Pablo Roberto; Nelson Gaspar Neto, chefe de Gabinete da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), representando o secretário Marcelo Werner; os juízes Antônio Faiçal e Liz Rezende, representando o TJBA; Luís Alberto Pereira, do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA); Larissa Guanaes, da Defensoria Pública do Estado da Bahia; Marinho Soares, do Conselho de Segurança Pública da OAB-BA; Aida Cintra e Luciano Viana, chefe de gabinete e superintendente de Gestão Prisional da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP), respectivamente; além de Anísio Vianna Filho, representando a delegada-geral da Polícia Civil, Heloísa Brito; e coronel Paulo Cunha, representando o comandante-geral da PM-BA, coronel Paulo Coutinho.